Banjara é o nome dado às pequenas comunidades nômades típicas do estado do Rajastão, norte da Índia. Um povo marginalizado, desrespeitado e mal visto pelos próprios indianos.
Muitas vezes cometem crimes menores, como roubos nos mercados e nas ruas, e quando são pegos, mudam-se para outras cidades. Por isso, não são vistos como um grupo estável e ficam totalmente à mercê da sociedade. Vivem em terras abandonadas e geralmente quando se estabilizam nessas áreas, são forçados a desocupá-las. Ganham dinheiro através do artesanato, como jóias, trabalho com argila e tapetes. São conhecidos pelo dhurre, um tapete muito durável e barato feito com pêlo de camelo e algodão. Outros ganham a vida com a música, tocando nas ruas e mercados. E muitos simplesmente sobrevivem dia após dia com pequenas doações de dinheiro e comida.
Diferente dos indianos, essa comunidade evocou em mim uma enorme admiração e respeito.Visualmente sofridos, vivem em condições sub-humanas. As crianças não recebem nenhum tipo de educação ou cuidado especial. A moradia é precária e a higiene é uma palavra que não pertence ao vocabulário deles. Não dispõem de vestimentas apropriadas para enfrentar o frio, nem estrutura para lutar contra o calor sufocante do deserto. A alimentação é básica, suficiente para não morrerem de fome. A saúde desse grupo é claramente vulnerável e afetada por todos esses fatores inerentes ao que parece ser seu destino ou karma. Mas dentro dessa aparente fatalidade imutável, os banjaras são alegres, divertidos e extremamente amáveis.
O grupo com quem conversei faz parte de uma casta de músicos chamada Bhopa. Eles tocam um instrumento curioso, o tanduri. Parece um violino improvisado, feito de coco, madeira, fio de aço e osso de camelo, e produz um som típico do Rajastão. Eles só podem se casar com alguém da mesma casta e seus casamentos são todos arranjados. Jamais eles conseguirão mudar essa realidade, pois o sistema de castas perpetua a crença na superioridade racial de determinadas “classes” de seres humanos sobre outras. A aceitação da opressão de certas castas “nobres” sobre a maioria sofredora faz parte do código sócio-religioso, fundamental no hinduísmo e que influencia toda a estrutura da sociedade na Índia.
Diferente da maioria dos banjaras, esse grupo mora no mesmo local há 9 anos. Apesar de terem perdido grande parte de suas casas durante um grave incêndio, eles resistiram a mais esse infortúnio e lutaram para reconstruir suas vidas, permanecendo de forma digna nessa região árida próxima a Pushkar.
Me receberam muito bem, com respeito e cordialidade. Em momento algum me senti ameaçada, muito pelo contrário, fizeram de tudo para eu me sentir em casa. Ansiosos para contar sobre suas vidas e acontecimentos, só tenho um arrependimento: não falar o Rajasthani, dialeto do Rajastão. De forma alguma isso foi um impedimento para a aproximação desses dois mundos distintos. Mas tenho certeza que deixei de entender alguns detalhes e de dizer tudo aquilo que estava na minha mente. Mesmo assim, tendo todas as diferenças imagináveis entre eu e esse grupo, me senti muito próxima de cada uma deles.
Meu coração se encheu de alegria com cada sorriso, cada palavra e história contada. Mas ao mesmo tempo, saí de lá com muito mais questionamentos do que quando cheguei. Encarei a desigualdade cara a cara e não consegui evitar um certo sentimento de culpa e impotência. Por que alguns tem tanto e outros tão pouco?
A Índia tem disso: a diferença abissal entre o rico e o pobre, o espiritual e o material, o cruel e o bondoso, a revolta e a aceitação, o lindo e o feio, o culto e o analfabeto… tudo é extremo nesse país. No Brasil, na bolha da minha cultura, eu achava que compreendia muita coisa, até mesmo a nossa própria miséria. E estou chegando a conclusão que o que achava que sabia sobre mim e o mundo, já não tenho tanta certeza assim. Parece que a Índia tem esse efeito nas pessoas, é como se entrássemos em uma grande casa de espelhos e pudéssemos enxergar os dois lados de cada reflexo. E esse, não é um processo muito fácil de digerir.
É, muita desigualdade por este mundo afora… Povos nômades nunca foram bem vistos… aqui tb nao. Achei linda a foto da mae com o filho no colo. Boa viagem e te cuida, bjs Gabi
Pois é… o que me impressionou é que jamais eles poderão mudar essa condição precária deles. Serão sempre parte dessa casta. E tudo bem, aceitam isso bem, vivem felizes e fazem o melhor que podem… é de se aprender alguma coisa com esse povo.
Obrigada Gabi!
beijos
Achei que iam ficar brincando de Hi5 pra sempre! hahaha, que lindos! Eles se divertem com tão pouco, né?! Pra eles deve ter sido um marco e um momento de distração, de esperança, alivio, enfim.. um mix de sensações ter tido você com eles, mesmo que por poucos minutos.
É muito bonito a transparência e o anseio deles em dividir tudo com você, a história, os costumes, as aflições.
Mais uma vez parabéns! Estou amando cada vez mais! E obrigada por dividir tão lindamente!!!
Bjssss
hahahahaha! Não sei eles, mas eu poderia ficar brincando de Hi-5 pra sempre! Lindos demais!
Rê querida, obrigada pela mensagem… mesmo. Fico muito feliz em poder dividir e saber que outras pessoas também se emocionam com essas experiências.
Um beijo enorme e mais uma vez obrigada por acompanhar!
Tati-
Love it all! So beautiful and so touched by all of it! Love you very much,
Martha
Love you Kristelly!
Thanks angel…
beijos
Ai, Tati, que peeeeeeeeeena dessas crianças, deste povo sofrido. Dá vontade de largar tudo… e pensar que, como eles, há milhões no mundo.
No entanto, a verdade é que não é preciso “ter” para ser feliz.
Beijo grande!
Oi Flavia!!!!! Sim, é de partir o coração… assim como muita gente na nossa terrinha, que assim como os indianos, são felizes com tão pouco. Faz a gente parar pra pensar, não?
Obrigada por acompanhar querida!
beijo grande
Tatiiiii,
Muito lindo esse trabalho que você está fazendo.
Continue aproveitando cada detalhe desse presente que Deus lhe dá de poder conhecer quão variado pode ser o ser humano.
Cuide-se e volte inteira para todos nós!
Parabéns!
Beijos, saudades,
Ed
PS.: mega orgulhoso de você
Ed!!!!! Que demais que está gostando!Fico super feliz, queridão!
Sim, é um presente divino esse, e estou aproveitando de forma plena e entregue… com certeza, a ideia é voltar inteira e com muita história pra contar!
beijo enorme cheio de saudades!
Obrigada por acompanhar, meu amigo lindo!
Gostei dessa primeira entrevista, deu para sentir esse povo, que, pasme- achei feliz.
Comecei a filosofar aqui comigo e questionar toda esse problema social que nosso mundo enfrenta, tao bem sentido e relatado por vc.
To meia propensa a achar que qualquer interferencia na realidade social e material de um povo milenar, vai mexer com um monte de conviccoes e crencas, como um efeito domino, culminando com a perda de identidade, infelicidade e grande sensacao de vazio- mais ou menos o que a maioria da populacao ocidental experimenta hoje em dia…..
Claro que a FOME, que flagela os paises africanos se encaixa em outra categoria……
Mas voltando a esse povoado do norte da India, a escassez de comida, higiene, e ate instrucao, incomodam mais a gente do que a eles….vc nao acha? E esse absurdo sistema de castas, e a fe e cumprimento das leis do hinduismo, sao o que os mantem equilibrados…..Nao ha questionamentos nem duvidas e nem espaco para a depressao e outros problemas psicologicos……ninguem busca a felicidade, pois para eles eh um estado de espirito e nao uma meta…..
Bom, querida Tati, muitas saudades e orgulho de vc estar ai, presenciando outras realidades e abrindo sua cabecinha a complexidade deste mundo.
Quando vc sai da India?
Concordo plenamente. Na realidade acho que a religião segura a onde deles…
Fico na Índia até dia 21. Vou tentar encontrar a Sonia, mas está bem corrido, não sei se vou conseguir. Tenho menos de 24 horas em Delhi…
Também estou com saudades… beijos a todos!
Olá, Tatiana!Excelente vídeo!Fiquei olhando essas crianças, tão simples, mas tão felizes e lembrando das que eu vejo aqui todo dia no Japão. Eu trabalho para o governo japonês e auxilio as crianças estrangeiras nas escolas daqui. E, nestes 6 anos eu nunca vi um criança, nem japonesa e nem estrangeira com a alegria e espontaneidade que essas crianças indianas têm. Eu estive na Índia recentemente e percebi isso. Percebi o quanto o olhar delas têm vida, apesar de elas não terem quase nada, se comparado às crianças de um país como o que eu vivo. Realmente nos faz pensar e avaliar muita coisa. Um grande abraço.